Anna Liz
Sou feita de retalhos. Pedacinhos coloridos de cada vida que passa pela minha e que vou costurando n
Textos
HOMENAGEM DE NÍVEA SABINO, ESCRITORA MINEIRA, A ANNA ELIZANDRA, POETA LUZIENSE
                        A vida em versos- Anna Elizzandra

O vento sopra manso, mas as nuvenzinhas de poeira insistem em pintar de marrom o horizonte. É um dia muito importante, hoje a linda menina que tem açúcar na voz e uma palpitante ansiedade saberá se é capaz de conduzir uma sala de aula.Coração aos pulos, recebe a noticia, é seu o ofício de professora.
Aos quatorze anos de idade, Anna Elizandra, tem a incumbência de ensinar outras crianças, pois ela mesma não parece uma adolescente, mas uma meninazinha que a vida se encarregou de logo cedo conceder mais responsabilidades que prazer.
Noticiam que não é fácil ser professor no Brasil, porque a verdade é que ser professor não é profissão, antes é um dom sequer uma vocação.
Nossa protagonista, porém não se intimida com as intempéries, pelo contrário vai a luta, tem sede de saber e ânsia de ensinar. Ali naquele lugar pobre, cidadezinha que  às vezes ela pensa que está esquecida de todos naquele rincão maranhense, o Divino lhe concede a graça de transformar almas através das letras, sua Santa Luzia será conhecida de todos através dos seus versos.
A agonia da vida, os soluços na madrugada, o coração ferido e a saudade de um amor etéreo que talvez nunca haja existido, na ponta do lápis transformam suas penas em luz.
Todo poeta tem uma alma sedenta, todo escritor necessita de equilíbrio, e a linda menina luziense se transformou numa bela mulher e foi- lhe concedido o galardão , Anna Elizandra pode riscar estradas, rasgar os céus, atravessar os mares, conhecer lugares e países, mas seu coração está em segurança é no seu lar que irradia amor e paz, onde cheios de expectativas,  Sebastião e Nicholas a aguardam, ali está sua guarida. Ali o coração da poeta repousa, e dali alça vôos de corajosa gaivota.
  O estado do Maranhão é rico em poetas e escritores no país, considerado desde o século XIX até os dias de hoje o maior em quantidade desses intelectuais, e Anna Elizandra não foge à essa regra, é com maestria na arte de ensinar, que a professora de Santa Luzia,  na sua sabedoria nata ensina:
- A gramática será bem empregada, o verbo corretamente conjugado, se o amor e o respeito pelos livros prevalecer. A leitura é a parte mais importante do saber. A letra impressa tem que ser amada, cultuada, desejada, sorvida em grandes goles literários.
E assim, a professora poeta passa para os seus alunos o segredo escondido nas bibliotecas. Anna Elizandra, a educadora se realiza com a conquista de seus pupilos.
Quantas histórias fantásticas rondam essa mulher frágil e valente, quantas vezes foi vítima de poemas solitários que teimam em saltar para o papel, pois não podem ficar presos em seu peito ardente. Ah, a busca insana por folhas brancas  ou simples guardanapos de papel, com certeza dá um belo conto, rebuscado de rimas, pois a luta atroz e implacável somente é vencida quando no avesso de algum documento importante ou de alguma ata interminável se lança com toda força formando um brocado do alfabeto.
Mas alma lavada e borracha a postos, novas letras irão brilhar em novos livros por esse mundo afora.
Quisera que o caminho de nossa poeta maranhense fosse somente de flores, mas é sabido que ‘não é contra homens de carne e sangue que temos de lutar”, e muitas vezes aparecem na estrada da vida pessoas invejosas e falsas, mas a verdade sempre prevalece, ninguém esconde uma lâmpada debaixo da cama.

Mesmo que ainda hoje, haja poeira tingindo o horizonte, que seja densa a escuridão da noite e que o vento enfurecido sopre sobre a pacata cidade do Maranhão e atreva- se a bater com força na porta onde repousa a melancólica poeta, ao perguntar a ela:
- Quem é você, Anna Elizandra? Ela com certeza transformará em brisa o vendaval ao  responder com sua voz de açúcar:
- Sou Anna, poeta de coração aberto, lançada ao vento.

Seus versos ainda ecoam em meus ouvidos, e calam fundos em minh’alma, são como bálsamo trazendo alívio e alento ao meu coração chagado. A marquinha no lado esquerdo do rosto, é um raiozinho de sol iluminando outras faces.

                                                                              Nívea Sabino
Anna Liz
Enviado por Anna Liz em 12/12/2010
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