Santa Luzia
Não a Santa Luzia da pistolagem
Não a Santa Luzia da grilagem, da politicagem
Mas a Santa Luzia que constrói a sua história
A Santa Luzia que faz literatura
A Santa Luzia da minha infância...
É esta que quero evocar...
A rua da Estrela onde eu brincava de roda e de queimada e
     Batia a bola nas janelas das casas vizinhas.
Vovó Nenem na calçada contando estórias para a meninada
Depois do jantar, as famílias sentadas na calçada com cadeiras, fofocas, namoricos e risadas
Cidade onde a gente brincava no meio da rua. E a criançada gritava:
Boca de forno – forno
Jacarandá – dá
Quando eu mandar – vou
Se não ir - apanhar
E a voz macia das meninas recitava:
Lá em cima daquela serra
Tem uma pedra de molar
Ela amola e desamola
Coisa boa é namorar
A rua do Cansa Perna...
Era assim os nomes das ruas de minha infância: rua da Estrela, rua do Sol, rua do Feijão Mucho, rua do Maribondo, rua da Salvação...
E lá na rua do Maribondo tinha um igarapé
                  Onde a  gente ia se banhar escondido
                  E voltava para casa com o corpo todo cinzento
                  Com medo das chineladas da mãe...
E minha avó...ah, minha avó fazia bolinho frito de arroz, beiju, cuzcuz e café pretinho para vender no mercado,
                                 Onde eu merendava antes de ir à escola do
                                                                                                      seu Marcelino...
A vida em Santa Luzia com uma porção de coisas que eu não entendia...
E melhor se nunca tivesse as entendido...

...café no mercado
                               ...rua da estrela
                                                        ...Colégio do seu Marcelino
                                                                                                  ...A vó Nenem
Nunca pensei que acabasse
Tudo parecia tão eterno...

Mas...Santa Luzia continua construindo a sua história, enriquecendo a sua memória...

                              (parodiado de Evocação à Recife - Manuel Bandeira)