PELAS ESTRADAS LUZIENSES
Há duas informações que, se solicitadas a um maranhense, é preciso saber interpretar muito bem. A primeira é: "o lugar X estar muito longe?". Se ele responder: "É bem aí", observe o tamanho do bico, quanto mais bico, mais longe. A outra informação é: "a estrada para lugar X está boa?". Se ele disser: "Dar de ir, tá bem boazinha", desconfie e procure outra rota, porque foi assim que, numa tarde de domingo, eu e Sebastião nos embrenhamos em um túnel afunilado com altas barreiras e palmeiras que se fechavam em copas.
Saímos de casa com o intuito de ir ao balneário de um amigo, que fica uns 25 ou 30km de onde moramos, seguindo por uma estrada de chão. Os primeiros 10km, a estrada estava maravilhosa, depois começou a ficar ruim até que entramos em um lugar que não havia estrada. Era apenas uma vereda, aparentemente quebrada com enxada, cheia de buracos e desníveis, mal cabia o carro. A sensação era de estarmos sendo tragados pelas barreiras, as copas das árvores eram tão fechadas que nem a luz solar conseguia penetrar. Foram alguns quilômetros de pavor, senti-me claustrofóbica, faltou-me ar. No meio daquele funil, Sousa começou a falar de um casal que fora assassinado ali, nesse momento minhas pernas já tremiam. A sensação era a de que nunca chegaríamos ao próximo povoado, mas chegamos, embora com o protetor de cárter do carro arrancado. Como em todo lugar nessas redondezas, temos amigos e conhecidos, logo vieram nos ajudar com o problema do veículo.
Apesar deste sufoco, chegar ao destino final foi maravilhoso, a boa receptividade dos amigos, a contemplação de uma natureza exuberante, a degustação de um peixe frito e uma boa cerveja compensaram a trilha meio thriller.
Na volta, fizemos outra rota mais tranquila, chegamos bem e com mais esta aventura e costumes maranhenses para compartilhar.
Anna Liz
Enviado por Anna Liz em 19/08/2019
Alterado em 28/08/2019