Do que se trata a coletânea “ Do que não calou em nós”?
Inúmeras são as possibilidades de resposta, contudo, talvez, o que motivou este apanhado de vozes tenha sido a intuição de que “um galo sozinho não tece uma manhã:” (João Cabral de Melo Neto). Do lugar de cada um, de cada uma, lançamos canto/verso, que, por sua vez, chame outro “que apanhe o grito de um galo (poeta) antes” e o lance, e assim por diante, para que a manhã/poesia contemporânea se vá tecendo entre toda gente.
Ainda, nessa perspectiva do poema de João Cabral, podemos dizer que aos e às poetas, ora reunidos/as, interessa apontar, por meio da poesia, um caminho mais justo para a vida em sociedade, como podemos sentir em seus versos: “livro-me dos poemas para /não enlouquecer, / mas loucura mesmo é/não escrever.” (Escrever para quê, Anna Liz); “as palavras vertem/ notícias fúnebres/ os poetas sangram/ pelas feridas humanas.” (Sobre a lucidez do asfalto, Carlos Vinhorth); “enquanto meu filho dorme/ sem ouvir os gemidos do mundo/em algum lugar/ redes prendem homens como feras.” (A rede que meu filho dorme, Evilásio Jr); “Não serei injusto contigo/Meu verso não esquecerá teu nome/ Porém, doravante acuso/ Toda injustiça e dor que há na fome.” (Adeus, minha musa!, Luís Henrique); “ Sou esse deserto de poeiras/ longínquas/ Sou água na cabaça, o arame/ Farpado, cercando o latifúndio/ De sol e estrada.” (Cabaça, Luiza Cantanhêde); “o velho desamassa/ uma camisa com a mão/ e chama os bichos/ para uma ceia/com as mãos/vazias.” (São Francisco, Paulo Rodrigues).
Assim, a intenção desta reunião de vozes de poetas do tempo presente não é só construir um coro – uma voz uníssona – mais também e, sobretudo, produzir um registro crítico-afetivo sobre o agora.